Está cada vez mais claro para as gestantes brasileiras que
muitas práticas obstétricas são adotadas desnecessariamente, apenas por fazerem
parte de uma tradição médica, e devem ser revistas e questionadas. Muitos
procedimentos artificiais introduzidos tiraram a naturalidade do nascimento e
não têm respaldo científico.
Abaixo, listo alguns procedimentos ou medidas sobre os quais
toda gravidinha pode (e deve!) ter escolha:
1- Presença de um acompanhante: durante
o trabalho de parto (TP) e no parto, o/a acompanhante pode dar suporte
emocional; é direito garantido por lei federal.
2- Lavagem intestinal (enema, clister,
fleet enema, enteroclisma): desconfortável e desnecessária se o intestino
funcionou normalmente nas últimas 24 horas. Caso contrário, você pode solicitar
uma aplicação a qualquer momento.
3- Liberdade para caminhar: caminhar
estimula o útero, promovendo um TP mais curto e com menos chances de
intervenções analgésicas.
4- Liberdade para mudar de posição:
diferentes posições podem ser mais confortáveis em diferentes momentos do TP:
sentar, ajoelhar, deitar de lado, acocorar.
5- Uso da água no TP: ficar embaixo do
chuveiro ou imersa numa banheira alivia a dor.
6- Água e bebidas leves: previnem a
desidratação e diminuem a sensação de boca seca por conta das técnicas de
respiração.
7- Alimentos com alto teor de
carboidratos e pouca gordura: são de digestão rápida e servem de suprimento
energético para o TP.
8- Raspagem dos pelos pubianos
(tricotomia): apenas se a mulher desejar; não diminui a incidência de infecções
e o crescimento após o parto pode ser desconfortável; na cesárea, pode ser
feita a tricotomia parcial.
9- Infusão intravenosa: apenas se houver
indicação médica; restringe a mobilidade e interfere no relaxamento.
10- Monitoramento fetal eletrônico: apenas se
houver indicação médica; o aparelho restringe o movimento e a posição da mulher
(deitada de costas) tem ação negativa sobre o TP e o bebê. A auscultação
intermitente dos batimentos cardíacos fetais por uma enfermeira ou parteira
treinada se mostrou igualmente efetivo.
11- Rompimento da bolsa d’água: o rompimento
artificial aumenta as chances de infecção e limita o tempo para o parto, além
de gerar normalmente contrações mais dolorosas.
12- Medicação para alívio da dor: deve ser
administrada apenas quando você solicitar e após informações completas sobre os
possíveis efeitos sobre você, o bebê e o TP.
13- Presença de acompanhante de parto
profissional: o suporte contínuo de uma profissional experiente, como doula,
enfermeira, obstetriz, massagista ou fisioterapeuta, além de aliviar as tensões
e medos do momento e oferecer informações adicionais importantes, tornam o TP
mais curto e com menos intervenções médicas como uso de ocitocina, anestesia ou
até mesmo a cesárea.
14- Uso de ocitocina sintética: a indução ou
aceleração do TP deve ocorrer apenas em necessidade médica; as contrações
induzidas são mais dolorosas e podem restringir o suprimento de oxigênio ao
bebê.
15- Uso de suíte de parto ou a mesma sala/quarto
para o TP e parto: evita a transferência às pressas, normalmente deitada de
costas, para a sala de parto. Muitos hospitais já oferecem as suítes de parto,
onde você fica durante todo o TP, parto e recuperação. Há ainda a possibilidade
do parto ser realizado em casas de parto ou até na sua própria casa, em caso de
parto normal de baixo risco.
16- Posição confortável e eficiente na hora da
expulsão: ficar quase sentada, deitada do lado esquerdo ou de joelhos pode ser
mais confortável. Deitar de costas comprime o cóccix, diminui o diâmetro da
pélvis e o útero comprime artérias importantes, impedindo um bom fluxo
sanguíneo. A posição de cócoras diminui o comprimento do canal de parto,
aumenta a abertura da pélvis e deixa as contrações mais eficientes, já que a
expulsão está a favor da gravidade.
17- Uso de estribos ou perneiras: deitar de costas
e colocar os pés nos estribos ou perneiras dão ao médico uma ótima visão para o
trabalho, mas fazem o períneo esticar demais, aumentando as chances de
laceração.
18- Episiotomia: apenas se for necessário; ao
permitir que a cabeça do bebê saia vagarosamente, apenas sob as forças
uterinas, o períneo tem maiores chances de distensão, diminuindo os riscos de
lacerações. A recuperação da episiotomia pode ser desconfortável e a cicatriz
muscular afetar o prazer sexual.
19- Anestesia peridural ou raquidiana: apenas se
necessária alguma intervenção cirúrgica ou a pedido da gestante.
20- Ambiente acolhedor na hora do parto: é
possível ter um ambiente calmo, tom de voz baixo, pouca luz, música ambiente,
caso a gestante prefira.
21- Clampeamento do cordão umbilical: a gestante
pode solicitar que o clampeamento do cordão seja feito depois que parar de pulsar,
permitindo que o bebê receba oxigênio pelo cordão enquanto o sistema
respiratório começa a funcionar. O pai pode cortar o cordão, aumentando sua
participação no nascimento.
22- Bebê colocado imediatamente no seu colo:
aumenta o vínculo precoce entre mãe e filho; ambos devem ser cobertos por uma
manta para manter a temperatura do bebê.
23- Amamentação do bebê assim que possível: a
sucção do bebê estimula a produção materna de ocitocina, induzindo o
delivramento placentário e reduzindo o sangramento pós-parto. O colostro age
como um laxativo, limpando o trato intestinal do bebê do muco e do mecônio.
Mesmo em caso de cesárea, a amamentação pode se iniciar ainda na mesa de
cirurgia ou na sala de recuperação.
24- Antibiótico oftálmico ou nitrato de prata:
apenas se houver indicação médica (caso a mãe seja portadora de gonorreia, por
exemplo) e após as primeiras horas do parto, depois da formação inicial de
vínculo entre mãe e filho. Além disso, o nitrato de prata pode provocar
conjuntivite química no bebê.
25- Expulsão espontânea da placenta: tração ou
massagem pode fazer com que algum tecido placentário fique no útero, provocando
infecção ou hemorragia pós-parto.
26- Amamentação materna exclusiva: o leite materno
é o alimento ideal para o bebê; aumenta o vínculo mãe-filho; ajuda o útero a
contrair e voltar mais rapidamente ao tamanho normal.
27- Alojamento conjunto 24 horas: a menos que haja
indicação médica, não deve haver separação entre mãe e bebê, favorecendo a
formação do vínculo entre eles; permite a amamentação em livre demanda e a mãe
pode aprender os primeiros cuidados com o recém-nascido sob a supervisão das
enfermeiras.
28- Início do TP mesmo em caso de cesárea: o TP é
a indicação de que o bebê está pronto para nascer e diminui substancialmente as
chances do bebê nascer prematuro.
29- Assistir ao nascimento no caso de cesárea:
pode-se rebaixar o protetor ou usar espelho na hora do nascimento e assim
deixar a mulher presenciar esse momento tão singular na vida dela.
30- Uso de sedativos pós-operatórios: sedativos
podem provocar amnésia materna e atrapalham a interação mãe-bebê; a mãe pode
usar de técnicas de relaxamento no lugar de sedativos.
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