Na era das críticas e do pré-julgamento indiscriminado, às
vezes é difícil uma mãe relatar seu parto cesárea, apesar da maioria, hoje,
infelizmente, optar por este tipo de parto sem indicações. E, pior ainda,
quando não amamentou. Não amamentou porque não pôde, não porque não quis. E
isso não a torna menos mãe. Muitas sabem que eu levanto a bandeira do parto
natural e humanizado, e aconselho a toda gestante assistir ao filme O
Renascimento do parto. Mas em alguns casos, realmente é necessário que se realize
uma cesárea. Precisamos aprender a respeitar as escolhas e deixar de exigir que
as mães deem explicações à sociedade sobre cada passo seu. Menos crítica e mais
gentileza, generosidade e amor.
Eu gostaria de trazer à reflexão sobre o quanto mulheres, que
sonhavam em ter um parto natural e humanizado, precisam de apoio e compaixão
após terem seus sonhos destruídos. E é sob essa discussão que eu trago hoje o
relato emocionado de uma grande amiga (que preferiu não ser identificada) que
teve que renunciar à opção de parto normal e à amamentação, muito antes de
engravidar.
“E de repente, eu me descobri com HIV. Parte do meu mundo
desabou. Muito menos pelo medo de ficar doente ou morrer, mas sim pelo medo de
não poder ser mãe. Mas eu tinha o meu marido comigo, e começamos a pesquisar
sobre o assunto. Eu comecei o tratamento com o coquetel imediatamente. Vida
quase normal, dependente de medicação. Mas não desistimos do sonho de ter nosso
bebê. E depois de 5 anos de tratamento, com o vírus controlado e tudo
programadinho para o meu marido não correr riscos, consegui engravidar.
Felicidade e amor transbordavam em nossas almas. Gratidão era o que eu sentia.
Foi uma gestação tranquila, leve, gostosa, sem dores e enjoos. Mas eu tive que
enfrentar e repensar antigas convicções. Contrariando o meu sonho de vivenciar
um parto normal, acabei optando pela cesárea. Não que não possamos ter normal
nesta condição, mas existem alguns cuidados e restrições que me deixaram
inseguras. Gestantes soropositivas não podem sofrer episiotomia ou lacerações.
Além disso, devem começar a tomar o coquetel, na veia, 3 horas antes e durante
todo o parto. Assim, por segurança de ter um parto controlado e por medo do meu
bebê ter contato com meu sangue durante o parto, me convenci, com a ajuda do
médico, é claro!, que a cesárea era a
melhor opção. Era minha primeira gestação, não sabia como todo o processo
acontecia, e tive medo. Não posso dizer que não sofri em ter que marcar a data
que meu filho viria ao mundo. Não me senti confortável. Eu não tinha esse
direito. Eu queria que ele decidisse quando estivesse pronto. Mas enfim...
assim foi. E a alegria da maternidade se sobrepôs a estas questões. O parto foi
tranquilo, com uma equipe atenciosa, música ao fundo e o meu marido ao lado,
chorando como criança. A recuperação também foi ótima e meu bebê, com exceção
do tempo de espera da minha anestesia, ficou o tempo todo no quarto ao meu
lado. E aí veio, talvez, a parte mais difícil para mim. Eu pensei que estivesse preparada para
enfrentar as limitações que o HIV me impunha, mas não estava. Eu não podia
amamentar meu próprio filho, e isso me rasgava a alma e o coração. Ele aceitou,
graças a Deus, a mamadeira desde o primeiro momento. Mas eu não! Não sabia que
ia doer tanto. Posso apostar que muito mais do que a dor da amamentação. Eu
fazia questão de dar todas as mamadeiras a ele, talvez como uma forma de
compensação. E chorava em silêncio. Mas era tanto amor envolvido, que hoje
somos “exageradamente” ligados, conectados. E seus exames confirmaram negativo
para o vírus. Mais gratidão! Mas ainda é com tristeza que leio sobre
amamentação materna exclusiva e em livre demanda, porque era assim que eu
desejava. Assim como me entristece saber de mães que deixam de amamentar por
opção, por comodidade. E me entristece mais ainda ouvir as críticas às mães que
não amamentam. Talvez elas não tenham podido. Cada uma sabe a história que
carrega consigo. Essa foi parte da minha...”
Respeitar e não julgar, aceitar as pessoas como são, exercício diário e necessário.
ResponderExcluirAdorei seu blog, só descobri hoje ......
Obrigada!! Bjao
Excluir