sábado, 2 de abril de 2016

Um mundo especial e pouco conhecido: o Autismo

               Mesmo estando já no final do dia, não poderia deixar de falar hoje sobre um tema ainda pouco abordado e cheio de mitos, apesar da estimativa de 2 milhões de pessoas afetadas, mais da metade ainda sem diagnóstico, só aqui no Brasil: o autismo. O mês de abril fica mais azul. É a cor que simboliza o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado todo dia 2 de abril, desde 2008. A data foi decretada pela ONU (Organização das Nações Unidas) para ressaltar os esforços na luta pela inclusão e atenção aos diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Descrito pela primeira vez em 1943, foi incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID10) da OMS (Organização Mundial de Saúde) somente em 1993 como um transtorno do desenvolvimento, o qual afeta a comunicação, a socialização e o comportamento.

              O azul foi escolhido como símbolo do autismo por ser mais frequente nos meninos (cerca de 4 a 5 vezes maior do que nas meninas). A fita com quebra-cabeças colorido também simboliza o autismo: o quebra-cabeça representa a complexidade da síndrome; e as diferentes cores e formas, a diversidade dos pacientes e suas famílias.
            De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais – DSM-5, um guia de classificação diagnóstica feito pela Associação Americana de Psiquiatria, o Transtorno do Espectro Autista abrange o transtorno autista, o transtorno desintegrativo da infância, o transtorno generalizado do desenvolvimento não-especificado (PDD-NOS) e a Síndrome de Asperger. E, infelizmente, ainda não tem cura.
           A ciência, efetivamente, sabe muito pouco sobre o autismo. Apesar dos inúmeros estudos e pesquisas, a causa do transtorno ainda é uma interrogação. Possivelmente, existe uma combinação de fatores. No entanto, o fator genético parece ter um papel menor do que se supunha. Apesar de muitos genes estarem associados às causas e à gravidade do autismo, a herança genética representa cerca de 50% de chances de uma criança desenvolver o transtorno, segundo a Associação Médica Americana. Os outros 50% estão associados a fatores externos, como poluição do ar, complicações durante a gravidez, infecções virais, contaminação por mercúrio e a idade dos pais (quanto mais avançada, maiores as chances de gerar uma criança autista).
         E assim, as famílias com crianças com TEA se veem, de repente, num mundo de dúvidas, medos, angústias e incertezas. E a cada etapa da vida da criança, novas descobertas são feitas, novos mitos são quebrados e novos desafios surgem para serem superados. E, talvez, o maior deles seja a aceitação do diagnóstico; entender que se tem, sob seus cuidados, um ser humano único, como somos todos nós, mas com características e cuidados especiais.
            O TEA é uma classificação geral para um grupo de transtornos do desenvolvimento, de base neurobiológica, que se caracteriza pela dificuldade na comunicação social e por comportamentos repetitivos. O grau de comprometimento varia entre os diferentes pacientes, mas normalmente são perceptíveis até os 3 anos de idade.
            Apesar das habilidades de comunicação serem prejudicadas, deve ficar claro que o autista não deve ser provido do convívio social. Pelo contrário. Os tratamentos disponíveis hoje podem reverter alguns padrões de comportamento através de estímulos cognitivos adequados e com profissionais especializados e multidisciplinares.
        O TEA pode ser associado também a deficiência intelectual, dificuldades de coordenação motora, déficit de atenção, hiperatividade, dislexia ou dispraxia, assim como a distúrbios do sono e gastrointestinais. Na adolescência, é comum ainda o desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão.
            Dependendo da gravidade da síndrome, algumas pessoas podem ter dificuldades de aprendizagem na escola ou mesmo em atividades do dia a dia, como tomar banho ou preparar a própria refeição.
            É comum pessoas autistas apresentarem uma maior sensibilidade sensorial, podendo envolver 1 ou mais dos 5 sentidos: visão, audição, olfato, tato ou paladar. Às vezes, por exemplo, determinados sons provocam ansiedade ou mesmo dor em pessoas com autismo, mas são ignorados pelos que não apresentam o distúrbio.
            Além da sensibilidade, os autistas costumam apresentar maiores habilidades visuais e se destacarem na música, arte e na matemática.
            Mas como identificar o autismo?
         Dependendo da gravidade do transtorno, as crianças com TEA já começam a demonstrar sinais nos primeiros meses de vida, como não manter um contato visual efetivo e não olhar quando alguém chama. Outras características presentes:
- demonstrar mais interesse nos objetos do que nas pessoas;
- não demonstrar reação quando os pais brincam de esconder ou sorriem;
- não imitar sons ou expressões faciais aos 9 meses;
- não apontar com o dedinho a partir de 1 ano de idade;
- dificuldade de brincar de faz de conta;
- dificuldade na comunicação verbal e não verbal;
- fazer movimentos corporais repetitivos;
- excessiva adesão a rotinas e padrões ritualizados de comportamento;
- demonstrar alteração emocional anormal frente a alguma mudança na rotina;
- repetir palavras ou trechos memorizados, como comerciais;
- não fazer amigos ou não participar de jogos interativos;
- apresentar comportamento agressivo com outras pessoas ou consigo.
            Vale ressaltar que nem sempre a criança apresentará todos os sintomas de autismo e com a mesma intensidade.
            O diagnóstico é clínico e feito por um médico especialista. A criança poderá ser diagnosticada com TEA caso apresente ao menos 6 dos sintomas clássicos do transtorno seguindo o critério do DSM-5.
            Algumas crianças com autismo não apresentam sintomas antes de 1 ou 2 anos e parecem “regredir”, perdendo suas habilidades linguísticas ou sociais. É o chamado autismo regressivo.
            Hoje existem eficientes tratamentos que visam maximizar as habilidades sociais e comunicativas da criança, reduzindo os sintomas e oferecendo suporte ao desenvolvimento e aprendizado. Um especialista ou uma equipe multidisciplinar deve desenvolver um programa específico às necessidades de cada criança. Diferentes terapias estão disponíveis, como: terapias de comunicação e comportamento, terapia ocupacional, fisioterapia e terapia do discurso/linguagem. Os medicamentos utilizados são aqueles voltados ao tratamento de problemas comportamentais ou emocionais, como: agressividade, ansiedade, hiperatividade, surtos, distúrbios do sono, dentre outros.
            Existem diferentes programas para tratar os problemas associados ao autismo, como a ABA (sigla em inglês para Análise Aplicada do Comportamento), a qual utiliza uma abordagem de aprendizado individual, na casa da criança e sob a supervisão de um psicólogo comportamental, que reforça a prática de diferentes habilidades. E o TEACCH (sigla em inglês para Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits relacionados à Comunicação), o qual recorre a recursos visuais que ajudam a criança a trabalhar de forma independente e a organizar e estruturar seu ambiente.
            O número exato de crianças com autismo é desconhecido, sobretudo devido à falha na identificação do transtorno pelos responsáveis e médicos. Mas é fato que o número de diagnósticos aumentou nas últimas décadas. Só ainda não está claro se a maior incidência se deve a um aumento real na taxa da doença, à maior capacidade de diagnóstico ou à nova definição do transtorno.
            Para terminar, queria dizer que o autista não vive em seu próprio mundo. Ele vive no NOSSO mundo, e deve, portanto, ser recebido com respeito, carinho, atenção e muito amor. E a melhor forma de vencer o preconceito é com conhecimento. Mais informação, mais amor, por favor!
               Ah, minha dica de blog: Lagarta Vira Pupa ;)


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