Mesmo estando já no final do dia, não
poderia deixar de falar hoje sobre um tema ainda pouco abordado e cheio de
mitos, apesar da estimativa de 2 milhões de pessoas afetadas, mais da metade
ainda sem diagnóstico, só aqui no Brasil: o autismo. O mês de abril fica mais
azul. É a cor que simboliza o Dia Mundial da Conscientização do Autismo,
celebrado todo dia 2 de abril, desde 2008. A data foi decretada pela ONU
(Organização das Nações Unidas) para ressaltar os esforços na luta pela
inclusão e atenção aos diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Descrito pela primeira vez em 1943, foi incluído na Classificação Internacional
de Doenças (CID10) da OMS (Organização Mundial de Saúde) somente em 1993 como
um transtorno do desenvolvimento, o qual afeta a comunicação, a socialização e
o comportamento.
O azul foi escolhido como símbolo do
autismo por ser mais frequente nos meninos (cerca de 4 a 5 vezes maior do que
nas meninas). A fita com quebra-cabeças colorido também simboliza o autismo: o
quebra-cabeça representa a complexidade da síndrome; e as diferentes cores e
formas, a diversidade dos pacientes e suas famílias.
De
acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais – DSM-5,
um guia de classificação diagnóstica feito pela Associação Americana de
Psiquiatria, o Transtorno do Espectro Autista abrange o transtorno autista, o
transtorno desintegrativo da infância, o transtorno generalizado do
desenvolvimento não-especificado (PDD-NOS) e a Síndrome de Asperger. E, infelizmente,
ainda não tem cura.
A ciência, efetivamente, sabe muito
pouco sobre o autismo. Apesar dos inúmeros estudos e pesquisas, a causa do
transtorno ainda é uma interrogação. Possivelmente, existe uma combinação de
fatores. No entanto, o fator genético parece ter um papel menor do que se
supunha. Apesar de muitos genes estarem associados às causas e à gravidade do
autismo, a herança genética representa cerca de 50% de chances de uma criança
desenvolver o transtorno, segundo a Associação Médica Americana. Os outros 50%
estão associados a fatores externos, como poluição do ar, complicações durante
a gravidez, infecções virais, contaminação por mercúrio e a idade dos pais
(quanto mais avançada, maiores as chances de gerar uma criança autista).
E assim, as famílias com crianças com
TEA se veem, de repente, num mundo de dúvidas, medos, angústias e incertezas. E
a cada etapa da vida da criança, novas descobertas são feitas, novos mitos são
quebrados e novos desafios surgem para serem superados. E, talvez, o maior
deles seja a aceitação do diagnóstico; entender que se tem, sob seus cuidados,
um ser humano único, como somos todos nós, mas com características e cuidados
especiais.
O
TEA é uma classificação geral para um grupo de transtornos do desenvolvimento,
de base neurobiológica, que se caracteriza pela dificuldade na comunicação
social e por comportamentos repetitivos. O grau de comprometimento varia entre
os diferentes pacientes, mas normalmente são perceptíveis até os 3 anos de
idade.
Apesar
das habilidades de comunicação serem prejudicadas, deve ficar claro que o
autista não deve ser provido do convívio social. Pelo contrário. Os tratamentos
disponíveis hoje podem reverter alguns padrões de comportamento através de
estímulos cognitivos adequados e com profissionais especializados e
multidisciplinares.
O
TEA pode ser associado também a deficiência intelectual, dificuldades de
coordenação motora, déficit de atenção, hiperatividade, dislexia ou dispraxia, assim
como a distúrbios do sono e gastrointestinais. Na adolescência, é comum ainda o
desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão.
Dependendo
da gravidade da síndrome, algumas pessoas podem ter dificuldades de
aprendizagem na escola ou mesmo em atividades do dia a dia, como tomar banho ou
preparar a própria refeição.
É
comum pessoas autistas apresentarem uma maior sensibilidade sensorial, podendo
envolver 1 ou mais dos 5 sentidos: visão, audição, olfato, tato ou paladar. Às
vezes, por exemplo, determinados sons provocam ansiedade ou mesmo dor em
pessoas com autismo, mas são ignorados pelos que não apresentam o distúrbio.
Além
da sensibilidade, os autistas costumam apresentar maiores habilidades visuais e
se destacarem na música, arte e na matemática.
Mas
como identificar o autismo?
Dependendo da gravidade do
transtorno, as crianças com TEA já começam a demonstrar sinais nos primeiros
meses de vida, como não manter um contato visual efetivo e não olhar
quando alguém chama. Outras características presentes:
- demonstrar mais interesse nos
objetos do que nas pessoas;
- não demonstrar reação quando os
pais brincam de esconder ou sorriem;
- não imitar sons ou expressões faciais
aos 9 meses;
- não apontar com o dedinho a partir
de 1 ano de idade;
- dificuldade de brincar de faz de
conta;
- dificuldade na comunicação verbal e
não verbal;
- fazer movimentos corporais
repetitivos;
- excessiva adesão a rotinas e
padrões ritualizados de comportamento;
- demonstrar alteração emocional
anormal frente a alguma mudança na rotina;
- repetir palavras ou trechos
memorizados, como comerciais;
- não fazer amigos ou não participar de
jogos interativos;
- apresentar comportamento agressivo
com outras pessoas ou consigo.
Vale
ressaltar que nem sempre a criança apresentará todos os sintomas de autismo e
com a mesma intensidade.
O
diagnóstico é clínico e feito por um médico especialista. A criança poderá ser
diagnosticada com TEA caso apresente ao menos 6 dos sintomas clássicos do
transtorno seguindo o critério do DSM-5.
Algumas
crianças com autismo não apresentam sintomas antes de 1 ou 2 anos e parecem “regredir”,
perdendo suas habilidades linguísticas ou sociais. É o chamado autismo
regressivo.
Hoje
existem eficientes tratamentos que visam maximizar as habilidades sociais e
comunicativas da criança, reduzindo os sintomas e oferecendo suporte ao
desenvolvimento e aprendizado. Um especialista ou uma equipe multidisciplinar
deve desenvolver um programa específico às necessidades de cada criança. Diferentes
terapias estão disponíveis, como: terapias de comunicação e comportamento,
terapia ocupacional, fisioterapia e terapia do discurso/linguagem. Os medicamentos
utilizados são aqueles voltados ao tratamento de problemas comportamentais ou
emocionais, como: agressividade, ansiedade, hiperatividade, surtos, distúrbios
do sono, dentre outros.
Existem
diferentes programas para tratar os problemas associados ao autismo, como a ABA
(sigla em inglês para Análise Aplicada do Comportamento), a qual utiliza uma
abordagem de aprendizado individual, na casa da criança e sob a supervisão de
um psicólogo comportamental, que reforça a prática de diferentes habilidades. E
o TEACCH (sigla em inglês para Tratamento e Educação para Autistas e Crianças
com Déficits relacionados à Comunicação), o qual recorre a recursos visuais que
ajudam a criança a trabalhar de forma independente e a organizar e estruturar
seu ambiente.
O
número exato de crianças com autismo é desconhecido, sobretudo devido à falha
na identificação do transtorno pelos responsáveis e médicos. Mas é fato que o
número de diagnósticos aumentou nas últimas décadas. Só ainda não está claro se
a maior incidência se deve a um aumento real na taxa da doença, à maior
capacidade de diagnóstico ou à nova definição do transtorno.
Para
terminar, queria dizer que o autista não vive em seu próprio mundo. Ele vive no
NOSSO mundo, e deve, portanto, ser recebido com respeito, carinho, atenção e
muito amor. E a melhor forma de vencer o preconceito é com conhecimento. Mais
informação, mais amor, por favor!
Ah,
minha dica de blog: Lagarta Vira Pupa ;)
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