terça-feira, 12 de abril de 2016

Crianças nas redes sociais: quando deixar?

      Quando escrevi aqui sobre “O limite da tecnologia”, um amigo pediu minha opinião sobre crianças nas redes sociais e o limite de tempo delas nestas redes. Pois este será o tema de hoje.

   Este é um assunto realmente polêmico e que tem gerado muitas discussões entre os profissionais e, principalmente, entre os pais e responsáveis.
    É inegável o papel das redes sociais hoje no estabelecimento de novas formas de se relacionar, aprender, se expressar. E não é diferente com as crianças, que se veem dialogando com o mundo, expondo suas ideias e opiniões, compartilhando seus interesses, acessando rápida e facilmente toda informação.
     Mas os efeitos colaterais dessa tecnologia exigem atenção. A inclusão digital, sobretudo em forma de perfis em redes sociais, estimula a interação entre as pessoas, diminui as fronteiras das relações, mas expõe a difícil missão de separar o que é público e o que é privado. E é aqui que encontramos os maiores problemas em permitir crianças ainda tão novas a frequentar espaços como Facebook, Instagram, Twitter, Snapchat e afins. Se já não tem sido fácil para os adultos fazer essa distinção, imagine para as crianças. Elas ainda não têm maturidade e discernimento suficientes para navegarem num espaço livre de censura e de rostos, muitas vezes, desconhecidos. Existe uma exposição exagerada das crianças a todo tipo de conteúdo, adequados ou não. Além disso, a publicação de atividades rotineiras, fotos e divulgação de hábitos e informações pessoais acabam gerando uma vulnerabilidade das crianças, e até da família, atraindo criminosos e pessoas de más intenções.
    No entanto, parece que muitos pais ainda subestimam os riscos. Não há uma estatística precisa sobre assédio digital, até porque muitos pais não denunciam com medo de expor seus filhos, mas evidências não faltam de que o assédio em redes sociais ocorre o tempo todo, e muitas vezes sob perfis falsos.
     Outro problema muito comum é o que chamamos de cyberbullying, onde outras crianças, muitas vezes da mesma idade, praticam o bullying com imagens e comentários depreciativos dentro das redes sociais. São situações complexas, em que as crianças não sabem como reagir e por medo não contam a seus responsáveis. O pior é que muitas vezes elas não sabem nem de quem se defender.
      Não é à toa, vale ressaltar, que para criar um perfil nesses espaços virtuais é necessário ter uma idade mínima. O Facebook só permite conta para maiores de 12 anos. O mesmo vale para Instagram, Snapchat e Twitter. O WhatsApp somente a partir de 16 anos. No YouTube, crianças podem assistir, mas para criar um canal é preciso também ter mais de 12 anos. No entanto, a maioria dos pais desconhece os limites de idade e permitem que seus filhos acessem as redes sociais.
     Outra questão igualmente polêmica é o limite de uso da internet pelas crianças. Um estudo realizado pela consultoria paulistana Officina Sophia com 1000 crianças usuárias da internet, entre 7 e 12 anos, de diferentes capitais brasileiras, evidenciou que 65% delas disseram não ter regras ou tempo determinado para navegar na internet. Será que nossas crianças não estão se isolando demais no seu mundo virtual?
      Segundo a Associação Americana de Pediatria (AAP), o tempo limite do filho passar em frente à TV, computador, celular ou tablete não deve ultrapassar de 2 horas por dia (o uso para fins acadêmicos não está incluído neste tempo).
      Porém, muitos pais acreditam que limitar o acesso ao mundo virtual pode deixar seu filho ingênuo ou “para trás” numa geração super conectada. Mas a internet é apenas uma ferramenta de informação e comunicação, e não desenvolvedora de habilidades. Na idade apropriada, eles saberão usufruir com melhor qualidade dessa ferramenta.
    Mas e quando todos os amigos dos filhos começam a usar as redes sociais, a pressão externa aumenta e seu filho passa a se sentir excluído?
      Se você cedeu a esta situação, minha dica é: muito diálogo e vigilância rigorosa sempre! A curiosidade infantil é natural, saudável e deve ser estimulada, mas os pais têm que acompanhar as descobertas dos seus pequenos bem de perto. Isso vale na rua, na escola, no play do prédio e também nos ambientes virtuais. Você pode rastrear os sites visitados através do histórico, além de filtrar conteúdos inadequados para a idade do seu filho. É possível também controlar a atividade on-line com softwares de internet avançados.
      Outras dicas importantes:
·      Revise as informações postadas nos perfis: não coloque nome da escola onde o filho estuda, endereço de casa, telefones, local de trabalho dos pais, ou qualquer informação de identificação;
·   Defina as configurações de privacidade para limitar quem pode acompanhar as postagens e o perfil;
·       Converse sobre a importância de não postar informações como quando está sozinho em casa ou quando todos viajarão de férias (e a casa estará sozinha);
·        Deixe claro que eles só podem aceitar pessoas conhecidas em suas redes sociais;
·     Siga os filhos nas redes sociais, acompanhe suas postagens e, principalmente, suas listas de amigos;
·     Estimule os filhos a lhe contar suas experiências, positivas ou não, nos ambientes virtuais;
·       Explique a importância de NUNCA marcarem encontros com alguém que só conhecem no mundo virtual;
·        Não deixe as crianças postarem fotos com roupas de praia ou tomando banho. E isso vale também para os pais!!
·        Deixe claro que eles devem cuidar com as mensagens, fotos e vídeos que colocam nas redes, principalmente sobre outra pessoa. É importante não falar mal de amigos ou ofender. Afinal, gentileza gera gentileza!
Apesar de todas essas medidas de segurança, eu ainda acho que criança, sobretudo as menores de 10 anos, devem fortalecer suas relações pessoais de amizade, brincar com outras crianças, explorar os ambientes culturais e esportivos, experimentar vivências e emoções oferecidas apenas pelo convívio. Mas, sim, eu sei que a pressão que eles fazem é muuuuito grande! Só posso desejar a nós, pais e responsáveis, sabedoria e discernimento, porque educar ninguém disse que seria fácil! ;)

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