Quando
escrevi aqui sobre “O limite da tecnologia”, um amigo pediu minha opinião sobre
crianças nas redes sociais e o limite de tempo delas nestas redes. Pois este
será o tema de hoje.
Este
é um assunto realmente polêmico e que tem gerado muitas discussões entre os
profissionais e, principalmente, entre os pais e responsáveis.
É
inegável o papel das redes sociais hoje no estabelecimento de novas formas de
se relacionar, aprender, se expressar. E não é diferente com as crianças, que
se veem dialogando com o mundo, expondo suas ideias e opiniões, compartilhando
seus interesses, acessando rápida e facilmente toda informação.
Mas
os efeitos colaterais dessa tecnologia exigem atenção. A inclusão digital,
sobretudo em forma de perfis em redes sociais, estimula a interação entre as
pessoas, diminui as fronteiras das relações, mas expõe a difícil missão de
separar o que é público e o que é privado. E é aqui que encontramos os maiores
problemas em permitir crianças ainda tão novas a frequentar espaços como
Facebook, Instagram, Twitter, Snapchat e afins. Se já não tem sido fácil para
os adultos fazer essa distinção, imagine para as crianças. Elas ainda não têm
maturidade e discernimento suficientes para navegarem num espaço livre de
censura e de rostos, muitas vezes, desconhecidos. Existe uma exposição
exagerada das crianças a todo tipo de conteúdo, adequados ou não. Além disso, a
publicação de atividades rotineiras, fotos e divulgação de hábitos e
informações pessoais acabam gerando uma vulnerabilidade das crianças, e até da
família, atraindo criminosos e pessoas de más intenções.
No
entanto, parece que muitos pais ainda subestimam os riscos. Não há uma
estatística precisa sobre assédio digital, até porque muitos pais não denunciam
com medo de expor seus filhos, mas evidências não faltam de que o assédio em redes
sociais ocorre o tempo todo, e muitas vezes sob perfis falsos.
Outro
problema muito comum é o que chamamos de cyberbullying, onde outras crianças,
muitas vezes da mesma idade, praticam o bullying com imagens e comentários
depreciativos dentro das redes sociais. São situações complexas, em que as crianças
não sabem como reagir e por medo não contam a seus responsáveis. O pior é que muitas
vezes elas não sabem nem de quem se defender.
Não
é à toa, vale ressaltar, que para criar um perfil nesses espaços virtuais é
necessário ter uma idade mínima. O Facebook só permite conta para maiores de 12
anos. O mesmo vale para Instagram, Snapchat e Twitter. O WhatsApp somente a
partir de 16 anos. No YouTube, crianças podem assistir, mas para criar um canal
é preciso também ter mais de 12 anos. No entanto, a maioria dos pais desconhece
os limites de idade e permitem que seus filhos acessem as redes sociais.
Outra
questão igualmente polêmica é o limite de uso da internet pelas crianças. Um estudo
realizado pela consultoria paulistana Officina Sophia com 1000 crianças
usuárias da internet, entre 7 e 12 anos, de diferentes capitais brasileiras,
evidenciou que 65% delas disseram não ter regras ou tempo determinado para navegar
na internet. Será que nossas crianças não estão se isolando demais no seu mundo virtual?
Segundo
a Associação Americana de Pediatria (AAP), o tempo limite do filho passar em
frente à TV, computador, celular ou tablete não deve ultrapassar de 2 horas por
dia (o uso para fins acadêmicos não está incluído neste tempo).
Porém, muitos
pais acreditam que limitar o acesso ao mundo virtual pode deixar seu filho
ingênuo ou “para trás” numa geração super conectada. Mas a internet é apenas
uma ferramenta de informação e comunicação, e não desenvolvedora de
habilidades. Na idade apropriada, eles saberão usufruir com melhor qualidade
dessa ferramenta.
Mas
e quando todos os amigos dos filhos começam a usar as redes sociais, a pressão
externa aumenta e seu filho passa a se sentir excluído?
Se
você cedeu a esta situação, minha dica é: muito diálogo e vigilância rigorosa
sempre! A curiosidade infantil é natural, saudável e deve ser estimulada, mas
os pais têm que acompanhar as descobertas dos seus pequenos bem de perto. Isso vale
na rua, na escola, no play do prédio e também nos ambientes virtuais. Você pode
rastrear os sites visitados através do histórico, além de filtrar conteúdos
inadequados para a idade do seu filho. É possível também controlar a atividade
on-line com softwares de internet avançados.
Outras
dicas importantes:
· Revise
as informações postadas nos perfis: não coloque nome da escola onde o filho
estuda, endereço de casa, telefones, local de trabalho dos pais, ou qualquer
informação de identificação;
· Defina
as configurações de privacidade para limitar quem pode acompanhar as postagens
e o perfil;
· Converse
sobre a importância de não postar informações como quando está sozinho em casa
ou quando todos viajarão de férias (e a casa estará sozinha);
·
Deixe
claro que eles só podem aceitar pessoas conhecidas em suas redes sociais;
· Siga
os filhos nas redes sociais, acompanhe suas postagens e, principalmente, suas
listas de amigos;
· Estimule
os filhos a lhe contar suas experiências, positivas ou não, nos ambientes
virtuais;
· Explique
a importância de NUNCA marcarem encontros com alguém que só conhecem no mundo virtual;
·
Não
deixe as crianças postarem fotos com roupas de praia ou tomando banho. E isso
vale também para os pais!!
·
Deixe
claro que eles devem cuidar com as mensagens, fotos e vídeos que colocam nas
redes, principalmente sobre outra pessoa. É importante não falar mal de amigos
ou ofender. Afinal, gentileza gera gentileza!
Apesar de todas essas
medidas de segurança, eu ainda acho que criança, sobretudo as menores de 10
anos, devem fortalecer suas relações pessoais de amizade, brincar com outras
crianças, explorar os ambientes culturais e esportivos, experimentar vivências
e emoções oferecidas apenas pelo convívio. Mas, sim, eu sei que a pressão que
eles fazem é muuuuito grande! Só posso desejar a nós, pais e responsáveis,
sabedoria e discernimento, porque educar ninguém disse que seria fácil! ;)
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