sexta-feira, 13 de maio de 2016

O direito de escolhas para o seu parto


 
   Está cada vez mais claro para as gestantes brasileiras que muitas práticas obstétricas são adotadas desnecessariamente, apenas por fazerem parte de uma tradição médica, e devem ser revistas e questionadas. Muitos procedimentos artificiais introduzidos tiraram a naturalidade do nascimento e não têm respaldo científico.
   Abaixo, listo alguns procedimentos ou medidas sobre os quais toda gravidinha pode (e deve!) ter escolha:

1-     Presença de um acompanhante: durante o trabalho de parto (TP) e no parto, o/a acompanhante pode dar suporte emocional; é direito garantido por lei federal.

2-     Lavagem intestinal (enema, clister, fleet enema, enteroclisma): desconfortável e desnecessária se o intestino funcionou normalmente nas últimas 24 horas. Caso contrário, você pode solicitar uma aplicação a qualquer momento.

3-     Liberdade para caminhar: caminhar estimula o útero, promovendo um TP mais curto e com menos chances de intervenções analgésicas.

4-     Liberdade para mudar de posição: diferentes posições podem ser mais confortáveis em diferentes momentos do TP: sentar, ajoelhar, deitar de lado, acocorar.

5-     Uso da água no TP: ficar embaixo do chuveiro ou imersa numa banheira alivia a dor.

6-     Água e bebidas leves: previnem a desidratação e diminuem a sensação de boca seca por conta das técnicas de respiração.

7-     Alimentos com alto teor de carboidratos e pouca gordura: são de digestão rápida e servem de suprimento energético para o TP.

8-     Raspagem dos pelos pubianos (tricotomia): apenas se a mulher desejar; não diminui a incidência de infecções e o crescimento após o parto pode ser desconfortável; na cesárea, pode ser feita a tricotomia parcial.

9-     Infusão intravenosa: apenas se houver indicação médica; restringe a mobilidade e interfere no relaxamento.

10-  Monitoramento fetal eletrônico: apenas se houver indicação médica; o aparelho restringe o movimento e a posição da mulher (deitada de costas) tem ação negativa sobre o TP e o bebê. A auscultação intermitente dos batimentos cardíacos fetais por uma enfermeira ou parteira treinada se mostrou igualmente efetivo.

11-  Rompimento da bolsa d’água: o rompimento artificial aumenta as chances de infecção e limita o tempo para o parto, além de gerar normalmente contrações mais dolorosas.

12-  Medicação para alívio da dor: deve ser administrada apenas quando você solicitar e após informações completas sobre os possíveis efeitos sobre você, o bebê e o TP.

13-  Presença de acompanhante de parto profissional: o suporte contínuo de uma profissional experiente, como doula, enfermeira, obstetriz, massagista ou fisioterapeuta, além de aliviar as tensões e medos do momento e oferecer informações adicionais importantes, tornam o TP mais curto e com menos intervenções médicas como uso de ocitocina, anestesia ou até mesmo a cesárea.

14-  Uso de ocitocina sintética: a indução ou aceleração do TP deve ocorrer apenas em necessidade médica; as contrações induzidas são mais dolorosas e podem restringir o suprimento de oxigênio ao bebê.

15-  Uso de suíte de parto ou a mesma sala/quarto para o TP e parto: evita a transferência às pressas, normalmente deitada de costas, para a sala de parto. Muitos hospitais já oferecem as suítes de parto, onde você fica durante todo o TP, parto e recuperação. Há ainda a possibilidade do parto ser realizado em casas de parto ou até na sua própria casa, em caso de parto normal de baixo risco.

16-  Posição confortável e eficiente na hora da expulsão: ficar quase sentada, deitada do lado esquerdo ou de joelhos pode ser mais confortável. Deitar de costas comprime o cóccix, diminui o diâmetro da pélvis e o útero comprime artérias importantes, impedindo um bom fluxo sanguíneo. A posição de cócoras diminui o comprimento do canal de parto, aumenta a abertura da pélvis e deixa as contrações mais eficientes, já que a expulsão está a favor da gravidade.

17-  Uso de estribos ou perneiras: deitar de costas e colocar os pés nos estribos ou perneiras dão ao médico uma ótima visão para o trabalho, mas fazem o períneo esticar demais, aumentando as chances de laceração.

18-  Episiotomia: apenas se for necessário; ao permitir que a cabeça do bebê saia vagarosamente, apenas sob as forças uterinas, o períneo tem maiores chances de distensão, diminuindo os riscos de lacerações. A recuperação da episiotomia pode ser desconfortável e a cicatriz muscular afetar o prazer sexual.

19-  Anestesia peridural ou raquidiana: apenas se necessária alguma intervenção cirúrgica ou a pedido da gestante.

20-  Ambiente acolhedor na hora do parto: é possível ter um ambiente calmo, tom de voz baixo, pouca luz, música ambiente, caso a gestante prefira.

21-  Clampeamento do cordão umbilical: a gestante pode solicitar que o clampeamento do cordão seja feito depois que parar de pulsar, permitindo que o bebê receba oxigênio pelo cordão enquanto o sistema respiratório começa a funcionar. O pai pode cortar o cordão, aumentando sua participação no nascimento.

22-  Bebê colocado imediatamente no seu colo: aumenta o vínculo precoce entre mãe e filho; ambos devem ser cobertos por uma manta para manter a temperatura do bebê.

23-  Amamentação do bebê assim que possível: a sucção do bebê estimula a produção materna de ocitocina, induzindo o delivramento placentário e reduzindo o sangramento pós-parto. O colostro age como um laxativo, limpando o trato intestinal do bebê do muco e do mecônio. Mesmo em caso de cesárea, a amamentação pode se iniciar ainda na mesa de cirurgia ou na sala de recuperação.

24-  Antibiótico oftálmico ou nitrato de prata: apenas se houver indicação médica (caso a mãe seja portadora de gonorreia, por exemplo) e após as primeiras horas do parto, depois da formação inicial de vínculo entre mãe e filho. Além disso, o nitrato de prata pode provocar conjuntivite química no bebê.

25-  Expulsão espontânea da placenta: tração ou massagem pode fazer com que algum tecido placentário fique no útero, provocando infecção ou hemorragia pós-parto.

26-  Amamentação materna exclusiva: o leite materno é o alimento ideal para o bebê; aumenta o vínculo mãe-filho; ajuda o útero a contrair e voltar mais rapidamente ao tamanho normal.

27-  Alojamento conjunto 24 horas: a menos que haja indicação médica, não deve haver separação entre mãe e bebê, favorecendo a formação do vínculo entre eles; permite a amamentação em livre demanda e a mãe pode aprender os primeiros cuidados com o recém-nascido sob a supervisão das enfermeiras.

28-  Início do TP mesmo em caso de cesárea: o TP é a indicação de que o bebê está pronto para nascer e diminui substancialmente as chances do bebê nascer prematuro.

29-  Assistir ao nascimento no caso de cesárea: pode-se rebaixar o protetor ou usar espelho na hora do nascimento e assim deixar a mulher presenciar esse momento tão singular na vida dela.

30-  Uso de sedativos pós-operatórios: sedativos podem provocar amnésia materna e atrapalham a interação mãe-bebê; a mãe pode usar de técnicas de relaxamento no lugar de sedativos.

    Muitos são os momentos e procedimentos que envolvem o trabalho de parto, o parto em si e o pós-parto. E a futura mamãe deve buscar conhecimento e diálogo com seu médico para fazer suas próprias escolhas com consciência, buscando sempre seu bem-estar e o do seu bebê. É um direito!

 

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